Quando Deus criou o amor mal sabia ele que eu ia sofrer por ele. Desculpa ser egoísta e falar só de mim e esquecer-me dos milhões de pessoas na mesma situação, mas é que só eu gosto de ti, Júlia. E só eu sofro por ti como nenhum homem neste mundo sofrerá.
Dói-me o coração de saudade de ti. Dos teus olhos, da tua boca e do teu sorriso encantador. Quando te foste embora, deixaste-me ali de joelhos e com a dor a aumentar. Apertava-me o peito, a dor, o perigo de te perder. Sentia-me na ponta de uma falésia e quando saíste de casaeu caí. Mas não senti dor nos braços, nas pernas, no corpo. Só sentia o vazio do coração, do lugar que preenchias, e esqueceste-te de mo devolver. A dor é tão grande que nem a consigo pôr para palavras. Já muitos tentaram. Mas como é que o Miguel Esteves Cardoso, a Florbela Espanca e milhares de outros pensadores e escritores conseguem descrever a falta que só tu me fazes? Eles não sentiram a dor que é perder-te, especificamente a ti.
Eu devo ser a pessoa mais difícil de se apaixonar no mundo, mas tu tiveste esse privilégio. Fizeste-me sentir o que é a paixão e agradeço-te por isso, por posso dizer a toda a gente que senti o que é estar apaixonado. Fizeste-me apaixonar-me por ti. E no final de contas, para quê? Para quê que serviu estar apaixonado? Partiste na mesma. Abandonaste-me. Deixaste o meu coração a lacrimejar. Quando foste embora ainda tiveste a lata de me dizer que a culpa não era minha, mas sim tua: Como? Como é que podes ser a responsável por eu te deixar desapaixonares-te de mim? Por eu não ter dado mais a ti. Não te ter encantado todos os dias que passavam. Mas nada disso importa mais. A realidade é que partiste e me deixaste, e eu vou ter enfrentar um longo caminho sozinho. Mas não te preocupes, eu vou ficar bem! Quanto mais não seja quando morrer. A morte não mata o amor, mas mata a minha consciência, e espero que mate a minha dor.
Eu juro que tento relembrar-me de ti pelos bons momentos mas não consigo... Dizem que o tempo cura tudo, inclusivamente o coração. Mas para curar o coração precisava de o ter. Queria que nunca mo tivesses levado. Todos os dias espero pelos correios para trazerem o meu coração, mas esse dia nunca chegou. Nem sei se chegará.
Desculpa este desabafo mas como é que se consegue esquecer algo que era maravilhoso?
Já te disse que sinto falta, todos os dias, dos teus lábios? Quem não sentiria falta? Os teus lábios beijavam ternamente os meus, a minha face e toda a superfície do meu corpo e faziam-me sentir em casa. Porque no final de contas, tu eras a minha casa. O sitio de onde eu fugia do dia violento de trabalho e me mimava com carícias e beijos. Eras o meu refúgio. Esperava ansiosamente pelas seis da tarde para sair do trabalho e chegar a casa para o pé de ti onde sei que me receberias com muitos beijinhos e me acolhias num abraço apertado. Sentíamos o coração um do outro a palpitar velozmente e acabávamos aos beijos ternurentos que passavam às carícias e que passavam ao amor.
No dia seguinte acordava mais cedo para te preparar o pequeno-almoço. Café com leite, mas pouco, preparava-te umas torradas e levava-te à cama onde me esperavas e me olhavas com uma cara ternurenta e doce. Pedias que me aproximasse de ti só para me dares os "bons dias" com um beijo matinal. Mas era só isso que eu precisava. O teu beijo era o meu combustível para o dia, sem ele eu não tinha energia para aguentar o dia todo. Talvez tenha sido isso, que nos afastou, a falta do teu beijo matinal. A dada altura eu chegava com o pequeno-almoço mas ainda estavas a dormir, e eu bom namorado que era não te queria incomodar. Os dias, as horas, os minutos custavam tanto, mas tanto, a passar. A meio da manhã já não sentia grandes forças para o resto do dia e chegava a casa cansado. Tão cansado que nem energia tinha para fazermos amor. A verdade, é que continuaste a não acordar a tempo para o meu beijo de bom-dia e eu ia chegando cada vez mais cansado a casa. Fomo-nos afastando. Comecei a viver num mundo diferente do teu.
Agora, olhando para trás, a culpa de te ter perdido é minha e só minha. Fui eu que não tive a displicência para te notificar da importância do teu beijo matinal para o meu dia. Para a minha vida. Para a nossa relação. Quando disseste que a culpa de acabarmos era tua, eu aceitei pois é mais fácil aceitarmos que todo o mal que nos acontecesse é culpa do outro. Mas o tempo fez-me perceber o quão errado estava em não ter posto logo a culpa a mim próprio e antecipado este desfecho.
Quem sabe o que poderia ter sido diferente. Quem sabe se alguma vez terias saído de casa e a aquilo que tínhamos ter terminado.
Se, se, se. De que adianta viver no se? Agora é tarde demais. O importante é nunca deveria ter deixado as coisas chegarem aos ses.